terça-feira, 11 de outubro de 2011

Joe Smith – Amigos do Silêncio (2011)

Personagem da década de 1960, época em que a música norte-americana predominava no mercado brasileiro, Joe Smith está de volta à cena – agora brasileiríssimo –, depois de três lendários LPs lançados pela MGL Minas Gravações Ltda, que se transformaria na Bemol. Cria dos proprietários da primeira gravadora mineira – os irmãos Afrânio e Dirceu Cheib e Célio Luiz Gonzaga –, o sargento, que tocava na Banda de Música do Departamento de Instrução da Polícia Militar, foi alçado à carreira solo aos 27 anos, conquistando fãs em BH. Mesmo depois de ter a verdadeira identidade revelada por um radialista, Joe continuou tocando e gravando.

“Foi tipo assim uma novidade”, conta Getúlio Naziazeno, de 71 anos, hoje capitão aposentado da PM. Na época, ele também integrava o incensado Gemini 7, famoso conjunto de baile da capital mineira. “Dirceu gostou da minha maneira de tocar sax e acabou me convidando para gravar com eles”, relembra o saxofonista – rebatizado Joe Smith pelos empresários por influência do sucesso de músicos como o mineiro Moacyr Silva (1940-2002), que gravava com o pseudônimo de Bob Fleming.

“O sax do Getúlio era e é muito bonito. Simpático, nós colamos a cara dele na capa do LP. Imediatamente foi para as paradas de sucesso da cidade, tocando só música americana”, diz Dirceu Cheib. Segundo ele, a revelação da verdadeira identidade do músico “caiu como uma bomba”.

“Quando descobriram que se tratava de um sargento da PM, foi um escândalo”, revela Dirceu. Mas isso não influenciou as vendas: cerca de 3 mil cópias de Sax exotic foram comercializadas em 1967. Nos dois anos seguintes, ainda como Joe Smith, o instrumentista gravaria os LPs Sensaxional (1968) e Sax internacional (1969), sob forte influência do jazz e das big bands.

Mais de quatro décadas depois, a Bemol traz o personagem de volta à cena com o CD Amigos do silêncio – O retorno de Joe Smith, viabilizado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Se na época havia facilidade de liberação de músicas internacionais para gravação no Brasil, atualmente, a situação se modificou devido à rigidez da legislação dos direitos autorais. Daí a opção pelo repertório com faixas de Ernesto Nazareth (Brejeiro) e Noel Rosa (Palpite infeliz, Último desejo e Com que roupa), já sob domínio público, além de Siciliana, de Bach. Os amigos Célio Balona (Flor de verão e Dama da noite) e Silvio Nascimento (Enfim) contribuíram com composições inéditas.

“O sax do Getúlio, que tocou na noite, é muito bonito”, elogia Dirceu Cheib. Ele chegou a gravar o então presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976) no LP JK em serenata. O político mineiro redigiu o texto no próprio estúdio para falar da importância da seresta no estado.

“O som do Getúlio é muito bonito e natural”, diz o flautista Mauro Rodrigues, que fez arranjos e direção musical do disco que marca a volta de Joe Smith ao mercado. “Quando comecei a tocar, ele já tinha um som bonito. Era referência”, recorda Mauro, que só conheceu os LPs do saxofonista mais tarde. “São álbuns legais. Mesmo dentro de uma concepção mais comercial, foram muito benfeitos”, conclui o flautista.
Ailton Magioli - EM Cultura

Preço – R$20,00

Faixas
01 – Brejeiro – Ernesto Nazaré
02 – Flor de Verão – Célio Balona
03 – Palpite Infeliz – Noel Rosa
04 – Último Desejo – Noel Rosa
05 – Enfim – Silvio Nascimento
06 – Com que Roupa – Noel Rosa
07 – Dama da Noite – Célio Balona
08 – Siciliana – J.S.Bach

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