"Danaide: espécie de roda hidráulica que dá um movimento de rotação à corrente de água no sentido em que se quer". Dentre a diversidade de significados do nome, que vão da botânica à mitologia, o emprego próprio da mecânica é, talvez, o mais adequado. Essa "roda motriz" que conduz notas, palavras e idéias surpreende justamente pela capacidade de orientação de um material sonoro fluido em todos os sentidos. Nela tudo cabe: o canto e as violas do norte de Minas combinado com a poesia urbana de cimento e aço. Mitos, imagens, entidades de todas as crenças reunidas num rito de celebração da potência dionisíaca.
Música feita de extremos. Do canto de entrada que diz a que veio (aldebarã) à festa de rua e do chamado ao próximo som (o chamador). Em oferenda, a primazia do casamento (que remete a Tom Jobim) entre uma melodia camerística solfejada num choro de ironia. Astronauta neandertal e sorocô, pontes entre o pós-moderno e o atemporal, o profano e o sagrado é a estridência barroca que grita. Um tapa nos ouvidos dos saudosistas da "mpb banquinho e violão".
A versatilidade dessa primeira volta da Danaide, que brota da poesia de Makely Ka, cresce na voz de Maisa Moura e ganha corpo nas cordas de Rodrigo Torino é uma aula de ecletismo com critério (lição rara em tempos em que a mistura é lugar comum) e promete ser apenas o começo do movimento dessa roda que - aguardem - traz consigo um turbilhão de águas pra matar a sede do novo na música do Brasil.
Por Renato Villaça
Preço – R$20,00
Faixas
01 - Rodador (Makely Ka e Estrela Leminski)
02 - Aldebarã (Makely Ka)
03 - Astronauta Neandertal (Makely Ka)
04 - Oferenda (Makely Ka)
05 - Monotonia Gris (Renato Negrão)
06 - Surya (Makely Ka)
07 - Santeria (Makely Ka)
08 - Solaris (Makely Ka)
09 - Jacarta (Makely Ka)
10 - Cantango (Makely Ka)
11 - Ogro (Makely Ka)
12 - Moira (Makely Ka)
13 - O Velho (Makely Ka)
14 - Rodador (Adivadador) (Makely Ka e Estrela Leminski)
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