No repertório estão peças de Bach, Vivaldi, Mozart, Villa-Lobos e Ravel, entre outros. Já os arranjos foram feitos para cordas, mas não as dos violinos, violoncelos e baixos. São as 10 da viola caipira que brilham em Viola brasileira em concerto (Gvianna), disco recém-lançado que reúne parte da “nata” do instrumento em torno de alguns dos temas mais conhecidos do repertório clássico. São violeiros de várias partes do país, sendo os mineiros a maioria.
O projeto teve como inspiração outro CD, Clássicos em ritmo de bolero, do cavaquinista Waldir Silva e o saxofonista Eymard Brandão. Depois de ouvi-lo, o músico João Araújo, produtor do lançamento com o colega Geraldo Vianna, pensou que seria possível fazer algo semelhante, mas com a viola. Ouvindo interpretações de violeiros de toda parte e experimentando na própria viola, o desejo de concretizar a idéia só cresceu e foi aliado a outra vontade: homenagear um dos maiores violeiros brasileiros de todos os tempos, o mineiro Renato Andrade, morto em 2006.
A partir daí, os convites foram feitos para os músicos que tinham maior afinidade com Renato e que já tivessem alguma intimidade com a música clássica: Adelmo Arcoverde (PE), Cacai Nunes (DF; nascido em Recife, PE), Pereira da Viola (MG), Roberto Corrêa (DF, nascido em Campina Verde, MG), Valdir Verona (RS), Fernando Sodré (MG), Chico Lobo (MG), Rogério Gulin (PR), Fernando Deghi (SP) e Miltinho Edilberto (SP); atualmente radicado na Europa). Por questões de agenda, outros nomes cotados não puderam ser incluídos no projeto.
“Eu e Geraldo propusemos, às vezes, desafios, mas também respeitando as opiniões individuais, uma vez que os arranjos de viola são dos próprios intérpretes. Foi um estudo aprofundado, adequando o critério de tentar mostrar o máximo possível da variedade de timbres e toques de viola atualmente em prática no Brasil sem ferir a integração de cada executante, todos muito generosos e interessados em homenagear o mestre Renato Andrade”, conta João.
Gravado entre maio e agosto, em Belo Horizonte, o disco é quase todo de viola solo, com participações ocasionais de outros músicos, caso de Sérgio Rabello (baixo e violoncelo) e Zeca Magrão (percussão). “Um dos objetivos do trabalho é exatamente mostrar que a viola de 10 cordas é instrumento completo, que nas mãos certas pode executar qualquer tipo de composição, das mais complexas às mais simples e singelas”, explica ele.
O repertório é aberto com Primavera, de Vivaldi, interpretada por Adelmo Arcoverde. A beleza e precisão do músico na execução impressionam e as dificuldades técnicas de transpor a peça para a viola caipira aparecem mais adiante, enfrentadas com competência pelo músico. Outros pontos altos são Habanera (de Bizet; repare na levada de Pereira da Viola), Trenzinho do caipira (de Villa-Lobos; casamento perfeito entre a viola e a música, pensado por Miltinho Edilberto) e a admirável performance de Moto perpétuo (de Paganini; com balanço de baixo e percussão a escoltar Fernando Sodré).
Eduardo Tristão Girão - EM Cultura
Preço – R$25,00
Faixas
01 – Primavera (Antônio Vivaldi) – Adelmo Arcoverde
02 – Arioso (Johann Sebastian Bach) – Cacai Nunes
03 – Habanera (Georges Bizet) – Pereira da Viola
04 – Prelúdios 01 e 07 Para Viola Brasileira (Theodoro Nogueira) – Roberto Corrêa
05 – Jesus, Alegria dos Homens (Johann Sebastian Bach) – Valdir Verona
06 – Moto Perpétuo (Niccolo Paganini) – Fernando Sodré
07 – Greensleeves (Autor Desconhecido) – Chico Lobo
08 – Bolero (Maurice Ravel) – Pereira da Viola
09 – Sinfonia NR 40 (Wolfgang Amadeus Mozart) – Fernando Deghi
10 – Trenzinho do Caipira ( Heitor Villa Lobos) – Miltinho Edilberto
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