Um dos poucos letristas a integrar o seleto time do Clube da Esquina, ao lado de Márcio Borges, Fernando Brant e Ronaldo Bastos, Murilo Antunes sentia falta de um único produto em que pudesse disponibilizar sua obra para o público. Aos 60 anos (recém-completados), resolveu reunir seu trabalho em Como se a vida fosse música. No documentário, além de tomadas externas e depoimentos, destacam-se faixas gravadas com convidados. Viabilizado com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura, o DVD, segundo o cantor e compositor, poderá ganhar versão em CD, caso ele consiga captar mais recursos.
A direção de cena do longa (75 minutos) é de Fernando Batista, da Noir Filmes. O filho do letrista, João Antunes, divide a direção musical com Flávio Henrique. Clássicos como Nascente e Besame, da parceria com Flávio Venturini, não poderiam faltar. Assim como Viva Zapátria, da parceria com Sirlan, que rendeu aos autores, em 1972, passagem pela então ativa censura federal, onde prestaram depoimento depois de a composição disputar a preferência do júri do 7º Festival Internacional da Canção (FIC), da TV Globo, com a vencedora, Fio maravilha, de Jorge Benjor. À dupla coube se contentar com a menção honrosa.
Com cerca de 250 composições gravadas por intérpretes variados, Murilo Antunes tem pelo menos mais 100 inéditas. A canção que batiza o novo projeto é fruto de parceria com Nelson Angelo. Autor de dois livros de poemas – O gavião e a serpente, de 1979, e Nossamúsica, de 1990 –, o letrista participa de duas coletâneas de prosa: Éramos felizes e sabíamos, ao lado de autores que viveram a adolescência em Montes Claros, e Amor na zona, com a crônica de época “Tarde baiana, viagem sacana”, cujo lançamento está agendado para a semana que vem, em Belo Horizonte.
Ainda na infância, mudou-se para Pedra Azul, e chegou a Belo Horizonte em 1965, para estudar. “Foi quando comecei a fazer música”, recorda. Sua mãe, afinada, vivia cantando em casa. “Aprendi música de ouvi-la, além do rádio.” Quando chegava da escola, na infância, ele se sentava em um banco ao lado do rádio, onde ouvia astros como Luiz Gonzaga. “Fiquei alucinado de tanta emoção com ele”, recorda. Logo depois de ter ouvido o músico pela primeira vez, teve a sorte de Gonzagão fazer show em Pedra Azul. O menino de 5 anos estava escondido na plateia. “Fugi pela janela de casa para chegar ao caminhão-palco, com o qual ele viajava pelo país.”
Tradição Além da reconhecida riqueza musical, Murilo destaca a tradição folclórica de Montes Claros, onde o amigo Geraldo Maurício construiu uma radiola estéreo para audições da então nascente bossa nova, além do jazz. As serenatas eram outra tradição da cidade natal, na qual aprendia letras de clássicos do gênero. “Dizem que sou desentoado”, afirma. Colega de escola de Sirlan, que conheceu no Colégio Estadual Central, Murilo fez a primeira letra para uma composição do amigo, quando tinha 18 anos. Já em 1969, os dois participariam do célebre Festival Estudantil da Canção, no Minascentro, onde conheceu a maioria dos integrantes da turma do Clube da Esquina.
À censura, que perdurou por toda a ditadura militar, Murilo atribui a “destruição” da carreira do parceiro Sirlan. “Ele conseguiu gravar o disco dele somente quatro anos depois de Viva Zapátria”, lamenta, lembrando que o pesquisador Zuza Homem de Mello registrou a saga de inúmeras vítimas do gênero no livro A era dos festivais, da Editora 34. “Íamos para o Rio tentar liberar. Trocávamos as parcerias, os nomes e nada. Às vezes, eles liberavam uma música instrumental”, recorda.
Vozes para uma canção
Gravado por estrelas como Leila Pinheiro e Jane Duboc (Besame, presente na trilha da novela global Vale tudo) e Maria Rita (Vero), além dos amigos do Clube da Esquina, Murilo Antunes cansou de ouvir as pessoas perguntarem onde encontrar sua música, espalhada por discos de inúmeros intérpretes. Lançada por Beto Guedes no disco A página do relâmpago elétrico, de 1970, Nascente, por exemplo, foi posteriormente gravada por Milton Nascimento no segundo e derradeiro disco Clube da Esquina, seguida de gravações de Flávio Venturini, além de Paulinho Pedra Azul e do saxofonista americano Michael Brecker, com a participação de Pat Metheny e Herbie Hancock.
A mais recente gravação do clássico reúne a brasileira Patrícia Talem e a americana Jane Monheit, em versão cantada em português e inglês, esta feita pelo também poeta Tonico Mercador. Originalmente lançada em disco de Paula Santoro, Como se a vida fosse música é a única faixa ainda não gravada do DVD, que vai ganhar a voz de Marina Machado. A única em que usará o fonograma original será a folia Rosário de Mariá, na voz de Tavinho Moura. “A gravação é insuperável, vamos clipá-la, em videoclipe de imagens gravadas em Pedra Azul”, anuncia.
A portuguesa Susana Travassos gravou a faixa dela em BH. Além do poema ‘‘Solo em noite de lua’’, gravado no local, Murilo fez questão de gravar Besame, na voz de João Bosco, no restaurante Balaio de Gato. Milton Nascimento, Fernando Brant e Márcio Borges são alguns dos responsáveis pelos depoimentos, os dois últimos, juntos de Murilo, na lendária Cantina do Lucas, do Edifício Maletta, do Centro da capital.
*por Ailton Magioli - EM Cultura
Preço – R$35,00
Faixas:
01 – Era menino – Tavinho Moura, Beto Guedes e Murilo Antunes
02 – Rosário de Maria – Tavinho Moura e Murilo Antunes
03 – Tesouro da Juventude – Tavinho Moura e Murilo Antunes
04 – Era Uma vez Por Toda A Vida – Flávio Henrique e Murilo Antunes
05 – Pot-pourri Flávio Venturini
Ciranda – Flávio Venturini e Murilo Antunes
Pierrot – Flávio Venturini
Solidão – Flávio Venturini e Murilo Antunes
06 – Poema: Emanuel – Murilo Antunes
07 – Saudade Eu Canto Assim – Tavinho Moura e Murilo Antunes
08 – Performance Poético-Musical
Vero – Natan Marques e Murilo Antunes
09 – Performance Poético-Musical
Poema: Era Um Ramo de Mato Seco – Murilo Antunes
10 – Viva Zapátria – Sirlan e Murilo Antunes
11 – Nem Nada – Beto Lopes e Murilo Antunes
12 – O Trem Tá Feio – Tavinho Moura e Murilo Antunes
13 – Quadros Modernos – Toninho Horta, Murilo Antunes e Flávio Henrique
14 – Findo Amor – Tavinho Moura e Murilo Antunes
15 – Performance Poético-Musical
Choro – Vítor Santana
16 – Poema: Solo Em Noite de Lua – Murilo Antunes
17 – besame – Flávio Venturini e Murilo Antunes
18 – Viver, Viver – Lô Borges, Murilo Antunes e Márcio Borges
19 – Nascente – Flávio Venturini e Murilo Antunes
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