quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Dona Jandira e Túlio Mourão – Afinidades (2017)

Dona Jandira, 79, ouvia sua mãe cantar em casa versões para músicas vindas da Espanha, França, Itália, México e Estados Unidos. Todas no idioma português, pois era assim que elas chegavam através do rádio. E foi assim que ela as apresentou para Túlio Mourão, 65. “Cantarolei músicas que eu sabia de cor e o Túlio se surpreendeu. Porque ele só conhecia no original em francês, inglês, italiano, e eu em português”, conta Jandira.

Munidos desse repertório que abarca clássicos como “Além do Arco-Íris”, “Hino ao Amor”, “Jalousie”, “Luzes da Ribalta” e “Sorri”, todos vertidos para a nossa língua pátria por nomes como Braguinha, e ainda “Com que Roupa?” e “Último Desejo”, de Noel Rosa, a dupla concebeu o álbum “Afinidades”.

“O crédito desse encontro deve ser dado ao projeto ‘Caixa Acústica’, que propõe reunir duplas inéditas no palco. Foi uma experiência baseada em admiração mútua. Jandira sempre me chamou atenção pela singularidade de seu perfil artístico e pelo que sua figura representa” enaltece Mourão, ao se referir à cantora alagoana que atualmente vive em Itatiaia, no interior de Minas. “Quando imaginamos um trabalho juntos, com piano e voz, muita gente achou essa união improvável, mas nós passamos longe dessa reflexão, porque o que acontece é que temos uma longa faixa de convergência”, assegura o músico.


Set list. Na hora de pinçar apenas uma canção desse repertório, Mourão é enfático. “Sem dúvidas a mais emblemática é ‘Hino ao Amor’, lançada pela Edith Piaf. Escutei todas as versões para esse trabalho. De Maysa, Dalva de Oliveira, todas cantaram com intensidade”, afiança.

Para manter a fuga da obviedade, Jandira escolhe outra. “Eu era meninoca, garota, e minha mãe cantava ‘Rosas Vermelhas para uma Dama Triste’. Me faz lembrar muita coisa do passado”, declara a entrevistada. Apesar da diversidade, Mourão é capaz de enxergar um discurso que une as músicas alinhavadas.

“Creio que esse álbum pode nos levar a vivenciar uma dimensão poética e romântica dentro da gente que se faz mais do que necessária como antídoto contra a enorme indiferença que nos cerca e a perplexidade que nos assalta”, convoca o pianista. “Esse é meu preceito mais insistente, a afinidade desse repertório iguala a todos em um profundo humanismo, são sentimentos que atingem a todos”, avalia.

E é voltando às suas raízes que o instrumentista e arranjador de Divinópolis aponta uma solução para a encruzilhada. “O mineiro tem essa capacidade de se voltar para dentro, vasculhar e descobrir preciosidades, seja ouro ou minério. Está no nosso perfil psicológico”, constata.

por RAPHAEL VIDIGAL

Preço – R$28,00

Faixas:
01 - Além do Arco Íris - Harold Arlen, E. Harburg e Eliseu Miranda
02 - Hino Ao Amor - Margueritte Monnot, Edith Piaf e Odayr Marsano
03 - Jalousie - jacob Gade e Oswaldo Santiago
04 - Cantei Um Blues - Altay Veloso e Paulo Cesar Feital
05 - Perfídia - Alberto Dominguez
06 - Com Que Roupa - Noel Rosa
07 - Rosas Vermelhas Para Uma Dama Triste - Roy Brodsky, Sid Tepper e Romeo Santos
08 - Último Desejo - Noel Rosa
09 - nenhum Verão - Túlio Mourão
10 - Luzes da Ribalta - Charles Chaplin, Braguinha e Antonio Almeida
11 - Minha Oração - James Kennedy, Georges Boulanger e Cauby de Brito
12 - Sorri - Charles Chaplin, Geofrey Parsons, John Turner e Braguinha

Nenhum comentário:

Postar um comentário