segunda-feira, 14 de julho de 2014

Duzão Mortimer – Trip Lunar (2014)

Uma trip musical
por Marcelo Dolabela
Há, na história recente da música brasileira, uma geração, ainda não estudada, que, erroneamente, é considerada “perdida”. Uma geração que surgiu e teve seu primeiro momento entre meados da década de 1970 e os descaminhos da Era-Collor.

Pós-Tropicalista, pós-Clube da Esquina, paralela e, às vezes, confundida com o Rock Brasil’80 e as vanguardas capitaneadas pela Lira Paulistana, e pré-massificação do canto de cisne da Era do Vinil (Neo-Sertanejo, Axé-Music, Pagode e outros subgêneros), esta geração, grosso modo, foi uma tradução da geração “College” – depois “Indie” – da música pop norte-americana.
Isto é, formada, quase que na sua maioria, por jovens universitários, bem informados e sem pretensões de profissionalização artística, fez a música que queria, acreditava e curtia, sem os mandos e desmandos da indústria pop-fonográfica.

Eduardo Fleury Mortimer, o “Duzão”, é um dos bons exemplos desta geração. De militante nas lutas do movimento estudantil contra a ditadura militar a professor universitário, trama sua música nas brechas, nas frestas e nos insights de sua produção acadêmica.
Dois discos em 25 anos – um LP, em 1988, com O Grande Ah!, e um CD,  com o grupo Mariantivel, de 1997 – parecem pouco. Não estabelecem, dentro dos padrões da indústria, uma discografia. Mas é aí que a obra se faz mais presente e vital.

Esta geração tem uma característica singular: não lança discos “de carreira”, lança “songbooks”, discos que fazem o “clique” que o poeta João Cabral de Melo Neto dizia ouvir quando um texto / obra estava pronto.

O que estabelece não um movimento, mas um momento que vai além de um determinado período. Assim, se antes, o grande parceiro musical de Duzão era Marcos Pimenta; hoje, a viagem continua, com uma segunda geração, tendo, como músicos, os filhos: Lucas e Ivan Mortimer, de Duzão, e Rafael Pimenta, de Marquinhos, que fazem a indústria sonora – guitarra, contrabaixo e bateria –, com maestria e inventividade.

Se o LP foi um álbum-performance, principalmente pelas participações dos vocalistas Letícia Coura e Rodrigo Rocha; se o CD foi um álbum-instrumental; este Trip Lunar é um verdadeiro álbum-canção. Onde, arranjos, instrumentais, vozes e produção concorrem para realçar melodias que sobrevivem no violão.

Mais do que parceiro de algumas faixas, sou testemunho deste repertório. Vi, ouvi e vivi estas canções sendo compostas, ensaiadas e estabelecidas. Em shows e eventos no memorável DCE-UFMG-Cultural e no festival WoodIcex. É mais do que positivo ver que algumas músicas, com o passar dos anos, são como livros que param em pé na estante, que tomam o ouvido de assalto com um frescor e rumor dos dias atuais. Músicas que reafirmam que esta geração “não (se) repete, apesar do bis”, como diria Marcel Duchamp. Que só vem à tona para mostrar novos combustíveis e novíssimas labaredas.

Preço – R$20,00

Faixas
01 – Trip Lunar – Duzão e Marcelo Dolabela
02 – Cidade Luz - Duzão e Marcelo Dolabela
03 – Claro Feitiço - Duzão e Marcelo Dolabela
04 – Fogo Nu – Duzão
05 – Coração Menino – Duzão, Marcelo Dolabela e Marcos Pimenta
06 – Não - Duzão e Marcelo Dolabela
07 – Muita Alegria - Duzão e Marcelo Dolabela
08 – Quem Inventou? - Duzão e Marcelo Dolabela
09 – Bacia de Latão - Duzão e Marcelo Dolabela
10 - Ponto de Mutação – Duzão

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