Para qualquer artista, o processo de criação de uma obra está intimamente ligado a isto. Jogar a tinta em uma aquarela e ordená-la de uma forma lógica (ou não). Cortar metros de celulóide e descartar sequências inteiras de um filme. Rabiscar, mudar palavras, rasgar pedaços e inutilizar páginas de um escrito. Tudo é cortado, colado, mutilado, refeito, reinventado. O exercício constante da produção artística é uma tentativa de se imprimir à obra um caráter novo, ainda que ele passe pelo velho.
Na música, isso fica mais evidente. O compositor, o cantor, o instrumentista, todos usam suas sensibilidades a favor da reinvenção e, ao mesmo tempo em que pisam numa areia movediça de sentimentos, amadurecem neste processo, enxergando o cipó cada vez mais próximo. Artistas na acepção do termo, os cinco integrantes do Tempo Plástico sempre souberam disso e, ao iniciarem o processo de gravação de "Fazendo a Lata Velha Voar", seu primeiro disco, colocaram suas verdades à prova, iniciando um processo que os reinventaria não só como músicos, mas como pessoas.
Este processo de reinvenção sempre fez parte do dia-a-dia da banda, que começou com um núcleo de três pessoas (Fabio Gruppi, Cláudio Moreira e Eduardo Drummond) ainda nos corredores da Faculdade de Comunicação da PUC-MG, onde dividiam a editoria de um jornal de poesias ("O Riso Vertical"). O passo seguinte - a criação de uma banda - foi natural, visto que Eduardo e Cláudio já exerciam este ofício juntos, com outros colegas. O ponto comum, nesta época, era o amor pelos sons psicodélicos com uma pitada de barulho. Deste início, em 2007, até o momento atual, foram tantas mudanças que eles mesmos chegam a dividi-las em três fases. A "Tempo Plástico 1" seria este nucleo inicial. A "Tempo Plásico 2" já seria o quarteto, com a adição de Felipe Prado no baixo, enquanto a atual seria a "Tempo Plástico 3", com entrada de Thiago Viana para ocupar o posto de segundo guitarrista e contribuindo de maneira definitiva para a nova orientação do som da banda: mais centrado em riffs, com menos presença de teclados, uma espécie de marca registrada da banda até então.
Esta terceira reivenção da banda coincidiu com a gravação do disco. Ao entrarem no Estúdio Ultra, o agora quinteto sabia muito bem o que queria: recomeçar. Praticamente todo o material composto anteriormente foi descartado e, com exceção de alguns riffs, as 12 canções que figuram no álbum, foram compostas entre outubro e dezembro de 2011, enquanto eles descobriam que a vida em estúdio era bem mais prazeirosa do que imaginavam. Se antes os riffs eram recheados de notas e os instrumentos se misturavam, agora a ordem era simplificar e separar. Os teclados foram praticamente deixados de lado e a presença da segunda guitarra mostrou ser a decisão acertada, vindo de encontro com esta simplificação do som. O Tempo Plástico agora soava mais direto, conciso e cru. Ou, se preferirem, mais rock.
As letras também sofreram uma mudança brutal nesta nova fase. Se antes os temas eram mais sombrios e refletiam as angústias dos letristas, agora a ordem era que eles fossem mais positivos e diretos, por mais que as angústias ainda estejam presentes nas entrelinhas. Do sentimento de estar em casa em qualquer lugar de Yellow Líquido" à mineiridade de "Libertas", as novas letras fazem alusão ao dia-a- dia da banda, a vontade de fazê-la acontecer, ao tempo em que isso se dá, à memória, à amizade e à despretensão. Em inglês ou em português, estes sentimentos universais são comuns aos cinco integrantes da banda e, combinados,produzem um material coeso, visceral e referencial para a geração da qual fazem parte. Sem fronteiras, sem barreiras, sem amarras.
"Fazendo a Lata Velha Voar" também não teria sido possível sem o envolvimento crucial do produtor Barral Lima, que não só fez sugestões que mudaram o caminho do Tempo Plástico como os instigou a procurar diferenciais dentro de suas almas. Foram dele os incentivos para que descartassem letras por inteiro, mudassem riffs, colocassem mais peso nas guitarras e deixassem os teclados de lado. Também foi ele quem sugeriu que a banda adotasse um quinto integrante nesta nova fase. Tudo isso secundado por Henrique Soares, o responsável pela gravação propriamente dita e pela mixagem do trabalho.
Finalmente, a masterização. Parte fundamental do processo de confecção de um disco, é frequentemente descrita por músicos como aquele momento em que o som ganha peso e forma. Por isso, a preferência foi para um dos estúdios mais famosos do mundo - o Sterling Sound - e o engenheiro escolhido foi Ted Jansen, responsável, entre outros, por "Diamond Eyes", dos Deftones; "Nation", do Sepultura; "Stone Temple Pilots", do Stone Temple Pilots e "Black Gives Way to Blue", do Alice In Chains.
Um verdadeiro "tour de force". Talvez este seja o termo para definir esta conjunção de fatores e competências que resultaram em "Fazendo a Lata Velha Voar". De um lado, uma banda sintonizada com o século 21 e como o mundo em que vivemos. De outro, profissionais experientes e gabaritados que encorparam o som, o modernizaram e transformaram o trabalho em um dos grandes discos de rock surgidos nas Minas Gerais nos últimos anos.
Preço – R$15,00
Faixas:
01 - Yellow Líquido - Cláudio Moreira e Fábio Gruppi
02 - Enquanto O Mundo Não Vem - Cláudio Moreira e Fábio Gruppi
03 - Kerouac - Cláudio Moreira e Fábio Gruppi
04 - Gift - Cláudio Moreira e Fábio Gruppi
05 - Se Quiser Saber - Cláudio Moreira e Fábio Gruppi
06 - Lafaiete - Cláudio Moreira e Fábio Gruppi
07 - No Tempo Certo - Cláudio Moreira e Fábio Gruppi
08 - Passe - Cláudio Moreira e Fábio Gruppi
09 - Maia-Noite - Cláudio Moreira e Fábio Gruppi
10 - Choosing A Way - Fábio Gruppi e Felipe Prado
11 - Electric Bird - Cláudio Moreira, Felipe Prado e Thiago Viana
12 - Libertas - Cláudio Moreira, Eduardo Drummond e Fábio Gruppi
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